terça-feira, 9 de março de 2010

CAMPINAS EM ALERTA > CAMPANHA CONTRA DENGUE

Campinas, 8 de março de 2010. INFORME DENGUE
Desde meados de 2009 o Município de Campinas tem tido índices pluviométricos e níveis de temperatura extremamente elevados quando comparados aos mesmos períodos de outros anos. Estas características climatológicas favoreceram a proliferação do mosquito Aedes aegypti, fazendo com que os índices de infestação médios de Campinas ficassem extremante elevados. No Gráfico 1 podemos observar que em 2009 houve o maior Índice de Breteau[1] (IB) para os meses de outubro e dezembro desde o início da série histórica do AEDESW7[2] em 2005. Os IBs de fevereiro historicamente têm sido os maiores do ano, se esta tendência se mantiver, devemos esperar um IB de fevereiro de 2010 até maior que o de dezembro de 2009, tornando se o maior da série histórica. Esta situação entomológica estabelece um risco altíssimo de transmissão de dengue no município de Campinas.
Desde o início de janeiro deste ano os casos de dengue no Estado de São Paulo têm demonstrado tendência explosiva, particularmente na região oeste e baixada santista, onde já estão caracterizadas epidemias em vários municípios. A dengue provavelmente está tendo capacidade de disseminação maior por já haver confirmação da circulação de 3 sorotipos diferentes no Estado de São Paulo (DENV 1, 2 e 3). Este fenômeno ocorre por que quando um paciente se infecta com um sorotipo da dengue ele se torna imune a uma re-infecção por aquele sorotipo para o resto da vida. Com a circulação de outros sorotipos este paciente se mantém susceptível a uma nova infecção pela dengue e com risco maior de casos graves. Portanto, a ocorrência de dengue por vários sorotipos em uma mesma região traz o risco de uma maior quantidade de casos de dengue e uma maior proporção de casos graves (Febre Hemorrágica de Dengue e Dengue com complicações).
Este ano na região metropolitana de Campinas os casos de dengue começaram a ocorrer nos município de Santa Bárbara, Sumaré e Hortolândia desde início de janeiro. No mês de janeiro os casos importados representaram 62% dos casos confirmados em Campinas, esta tendência começou a se inverter e em fevereiro com a introdução aumento da transmissão em Campinas. Houve um agravamento súbito da situação epidemiológica nas últimas semanas (Gráfico 2). Os resultados de exames já recebidos confirmam 52 casos autóctones em fevereiro (Tabela 2), embora ainda existam muitos exames aguardando realização no IAL-Campinas (Instituto Adolfo Lutz). Se a tendência de casos se mantiver inalterada nas últimas 3 semanas a expectativa é que tenhamos a confirmação de 103 casos de dengue autóctones com início de sintomas em fevereiro, um número muito maior que a média histórica para o mesmo período sendo até maior que o limiar endêmico[3] de dengue em Campinas (Gráfico 3). Apesar de termos vários exames de NS-1 positivo, ainda não foi isolado nenhum vírus na Região Metropolitana de Campinas, portanto não sabemos qual sorotipo está circulando. A rápida ascensão dos casos em Campinas, inclusive em áreas que já passaram por epidemias de DENV 3, reforçam a hipótese de que está havendo circulação de um novo sorotipo, DENV 1 ou DENV 2, que há anos não circula em Campinas.
Com esta situação entomológica e epidemiológica a Vigilância em Saúde de Campinas está conseguindo, agilizar o processo de contratação de mais 200 ajudantes de controle ambiental (ACAs), além de supervisores. Nas próximas semanas um esforço extra deverá ser feito pelas equipes da Secretaria Municipal de Saúde, incluindo ACAs, Agentes Comunitários de Saúde (ACSs), médicos, enfermeiros e outros profissionais no sentido de identificar de áreas de transmissão para estabelecer rapidamente as medidas de controle. Isto depende de avaliação clínica adequada para identificar suspeitos, busca ativa com remoção de criadouros e preparo rápido das áreas a serem nebulizadas. O objetivo é interromper rapidamente a transmissão da dengue nas áreas identificadas para evitar situações mais graves.
Uma atenção especial deve ser dada à atenção clinica dos pacientes com suspeita de dengue. A avaliação clínica inicial deve incluir anamnese adequada, buscando fazer diagnóstico diferencial e identificar possíveis locais de sangramento, medida da pressão arterial em duas posições e prova do laço naqueles pacientes sem hemorragia espontânea. Todo paciente com suspeita dengue deve ter hemograma simplificado (hematócrito, hemoglobina, contagem de leucócitos e plaquetas) colhido na primeira consulta. O laboratório municipal aceita entrada exames até as 16h30 e exames que chegarem até 14h00 poderão ser devolvidos no mesmo dia. Pacientes com sangramento espontâneo ou prova do laço positiva devem ter seus hemogramas avaliados no mesmo dia. Estes pacientes deverão ficar nas unidades de saúde sendo hidratados enquanto aguardam os resultados, caso não haja possibilidade de ter o resultado do hemograma no mesmo dia estes pacientes deverão ser encaminhados aos Pronto-Socorros para realização dos hemogramas de urgência. Os pontos-chaves do tratamento do paciente com suspeita de dengue são a avaliação, hidratação e monitoramento clínico adequados. Além de orientação adequada sobre hidratação e sinais de alerta para os pacientes que forem para casa (vide GUIA PRÁTICO PARA MANEJO CLÍNICO DE PACIENTES COM SUSPEITA DE DENGUE).
André Ricardo Ribas Freitas, Médico Sanitarista, COVISA/SMS/Campinas Coordenador do Programa Municipal de Controle da Dengue
Gráfico 1: Índice de Infestação (Breteau, IB), média do município de Campinas (fev/2005-dez/2009)
Gráfico 2: Número de casos de dengue por mês (2008-2010, Campinas, escala linear). Estimando o número de casos com início de sintomas na última semana de fevereiro. Fonte: SINAN
mês Gráfico 3: Número de Casos de Dengue por mês em relação ao limiar endêmico (2010, Campinas, escala logarítmica). Estimando o número de casos com início de sintomas na última semana de fevereiro. Fonte: SINAN Tabela 1
Tabela 2
[1] Índice de Breteau (IB): Índice que reflete o número de criadouros com Aedes aegypti em cada 100 casas avaliadas em uma amostra, é realizado a cada 2 meses em Campinas. [2] AEDESW7: Programa desenvolvido pela SUCEN para monitoramento dos índices de infestação. [3] Limiar endêmico é uma referência utilizada para identificar situações em que a ocorrência de uma doença está acima do esperado, é calculado a partir da média histórica somada a 1,96 vezes o desvio padrão.

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